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Pinto da Costa presta homenagem sentida ao seu irmão

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Pinto da Costa prestou uma sentida e ARREPIANTE homenagem ao seu irmão José Eduardo Pinto da Costa, o famoso Dr. Pinto da Costa, na universidade Fernando Pessoa.

Paixão pela medicina:

“Foi aqui falado no professor Pinto da Costa. Não vou falar dele, que nunca foi meu professor. Felizmente para ele. Porque no sétimo ano do liceu, em seis cadeiras, morreram três professores do Colégio Almeida Garrett. Venho lembrar apenas o que foi o meu irmão José Eduardo. Desde pequenino que as brincadeiras dele era operar e auscultar os bonecos e bonecas das nossas irmãs. Tinha, desde sempre, uma paixão e uma vocação para a medicina. Era isso que ele queria e que sonhava. E quando ainda éramos jovens solteiros e ele estudante, fazia-me muita impressão que ele saísse comigo à noite, não até muito tarde, e depois ia estudar para aquilo a que chamávamos morgue. Ficava impressionadíssimo.”

Medicina como o FC Porto:

“O professor Carlos Lopes, de quem ele gostava muito, deu-lhe a chave do instituto a que chamávamos morgue e ele ia estudar para lá. Eu dizia assim: ‘Oh Zé, tu tens coragem para estar na morgue?’. E ele: ‘É o sítio mais seguro. Ninguém se mete comigo’. E, realmente, desde estudante que ele teve essa vocação. Foi, de facto, o grande amor da sua vida em termos profissionais. Ele dizia-me assim: ‘Olha, a medicina está para mim, como o FC Porto está para ti. Por isso, não te podes admirar com tudo o que faça pela medicina legal, porque também fazes pelo FC Porto coisas que eu não compreendo’.”

Sentido de amizade:

 “Foi um companheiro fantástico, mas acho que há uma faceta que era muito importante nele e sinal de que era um grande homem: ele tinha um grande sentido de amizade. Mais depressa tratava um pobre ou desfavorecido, do que um rico e abastado. Recordo-me que, quando se formou, abriu o consultório na Rua Ramalho Ortigão, por cima do ainda existente Café Apolo. Era diretor do boxe, o boxe precisou de um médico e ele foi oficialmente médico da secção de boxe. E gostava muito. Ia sempre assistir aos combates. Um dia, quando o consultório tinha muita gente, a empregada disse: ‘Está ali um senhor com muito mal aspeto, que diz que é o Pirata. E eu estou muito assustada’. E ele: ‘Ai está? Olhe, ele que entre à frente dos outros’. Era um boxeur. Isto mostra a atenção que ele dedicava às pessoas. Tinha um conceito de amizade e uma fidelidade a essas pessoas.”

Amizade era sagrada:

“Um dia, não muito longínquo, ele foi mandatário do Dr. Garcia Pereira e eu disse-lhe: “Oh Zé, por que és mandatário do Dr. Garcia Pereira?’. Ele teve uma resposta simples, que me convenceu: ‘Porque sou amigo dele”. Este conceito de amizade sobrepunha-se aos princípios filosóficos e ideológicos. A amizade, para ele, era sagrada. Já quando ele estava doente, eu ia lá várias vezes – não tantas quantas como desejava – , houve um dia em que ficámos sozinhos. Ele disse-me assim: ‘Olha Jorge, nós somos uns privilegiados. Qualquer indivíduo com 20 ou 30 anos assinava já morrer depois dos 80. E era esse conceito, de ter vivido a vida, uma vida dedicada ao que gostava e, sobretudo, realçar que nunca me dizia a Maria José, nem a Mariana; era a Zezinha e a Marianinha. E ele morreu junto delas, como queria, com uma morte feliz, que merece hoje a presença de todos vós.”

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